domingo, 17 de fevereiro de 2013

Na Estante: Água Para Elefantes

Água Para Elefantes (Water For Elephants)
Trechos

“Tenho 90 anos. Ou 93. Uma coisa ou outra.
Quando temos cinco anos sabemos até os meses de nossa idade. Mesmo por volta dos 20 sabemos quantos anos temos. Tenho 23, dizemos, ou talvez 27. Mas quando chegamos aos 30, algo estranho começa a acontecer. A princípio, é um mero sobressalto, um instante de hesitação. Quantos anos você tem? Ah, eu tenho — você começa confiante, mas depois para. Ia dizer 33, mas não é essa a sua idade. Você está com 35 anos. E isso o incomoda, pois você fica imaginando se não é o início do fim. Claro que é, mas ainda faltam décadas para você admitir isso.
Começamos a esquecer as palavras: elas estão na ponta da língua, mas, em vez de simplesmente saírem, permanecem ali. Subimos a escada para buscar alguma coisa e, quando chegamos lá em cima, não lembramos mais o que estávamos procurando. Chamamos um filho pelo nome de todos os outros e até pelo nome do cachorro antes de acertar. Às vezes esquecemos em que dia estamos. E, por fim, o ano.
Na verdade, não é que eu tenha esquecido. Simplesmente deixei de prestar atenção. Passamos o milênio, disso eu sei — tanto barulho por nada, todos aqueles jovens chiando de tanta preocupação e comprando comida enlatada porque alguém teve preguiça de deixar espaço para quatro dígitos em vez de dois —, mas isso pode ter sido no mês passado ou há três anos. O que importa? Que diferença há entre três semanas, três anos ou até mesmo três décadas de purê de ervilha, mingau e fraldas geriátricas?
Tenho 90 anos. Ou 93. Uma coisa ou outra.”






“A idade é um ladrão terrível. Justamente quando se começa a entender melhor a vida, a idade nocauteia suas pernas e arqueia suas costas. Ela lhe traz dores, lhe confunde a cabeça e silenciosamente espalha o câncer em sua esposa.
Metastático, disse o médico. É uma questão de semanas ou meses. Mas minha amada era frágil como um passarinho. Ela morreu em nove dias. Depois de 61 anos juntos, ela simplesmente apertou a minha mão e expirou.
Embora haja ocasiões em que eu daria tudo para tê-la de volta, foi bom ela ter ido primeiro. Perdê-la foi como ter sido partido ao meio. Naquele momento tudo acabou para mim, e eu não gostaria que ela passasse por isso. Ser sobrevivente é uma droga.
Eu achava que preferia envelhecer à outra opção, mas agora já não tenho tanta certeza. Às vezes, a monotonia dos bingos, dos saraus e dessa gente antiga e embolorada, estacionada no corredor em suas cadeiras de rodas, me faz desejar a morte. Principalmente quando me lembro de que sou um deles, jogado de lado como se fosse uma quinquilharia inútil.
Mas não há nada que se possa fazer em relação a isso. Só me resta passar o tempo esperando o inevitável, observando os fantasmas do meu passado se agitarem em volta do meu presente insignificante. Eles se chocam e se esbarram à vontade, principalmente por não haver nenhuma resistência. Parei de lutar contra eles.
Neste momento, eles estão se agitando ao meu redor.
Sintam-se à vontade, rapazes. Fiquem mais um pouco. Ah, desculpem — vocês já estão à vontade.
Malditos fantasmas!”



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